quinta-feira, 2 de junho de 2011

Experiência Clínica//Livro em breve!


REFLEXÃO DE UMA EXPERIÊNCIA CLÍNICA NO CAMPO DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
SUSTENTADO POR UMA VISÃO FILOSÓFICA

Por Júlio Cesar Ramos de Oliveira e Arthur Túfolo

(...)Acompanho Jorge há 16 anos. Fui solicitado a conhecê-lo a partir da interrupção da terapia, devido ao seu impedimento e restrição em se deslocar ao consultório. Esse quadro, sem sustentação e suporte clínico, acontecia havia quase um ano, sem aderência a nenhum tipo de tratamento. O paciente não saía de sua residência durante esse período. Segundo sua terapeuta, ele ouvia vozes e sentia-se constantemente perseguido. Quando o conheci, ele me pareceu muito tenso diante da minha presença. Constatei no decorrer dos encontros, e ainda hoje em dia percebo, que a minha simples presença é o suficiente para fazê-lo sentir-se ameaçado e por vezes invadido. Jorge habita um lugar existencial de constante iminência doe não- ser, uma profunda experiência de solidão e vazio, uma fundamental insegurança de ser quem ele é. (...)
A fenomenologia existencial não trabalha com procedimentos, uma vez que não visa resultados, tampouco estabelece metas a serem alcançadas. Diferente da metodologia científica que busca freneticamente soluções e respostas, procurando explicar tudo o que existe,; a fenomenologia não trabalha a partir de cálculos e comprovações, pois, para os fenomenólogos, para algo existir, não há necessidade de provas nem de justificativas (STEIN, 2001).
(...) Devo enfatizar que meu gesto, autorizou e permitiu a Jorge estar em sua plenitude e me receber da maneira que lhe era possível. A distância física fazia-se necessária. Eu não desistia e tampouco o abandonava. Esse pedido era digno dele e acolhido por mim. Mantinha uma fiel escuta de Jorge, eu o aceitava nas suas condições e possibilidades e ele podia ser quem ele era realmente. Admiti como hipótese que aquela era a maneira reativa de ele responder ao meu retorno após dois anos consecutivos de atendimento. (...)
Jorge não passou mais por internações restritivas, esse acontecimento do seu existir humano me diz que hoje ele é está sendo quem realmente ele é, de forma mais livre e próxima de si mesmo. Uma vida em que ele mostra, a cada momento, que ele pode ser, e aqui o "poder ser" faz um contraponto com o "ser poder" (HEIDEGGER, 1989). Estou convencido de que minha presença numa relação de correspondência propiciou um verdadeiro encontro com Jorge, e isso é a fonte dos desdobramentos das possibilidades dos modos do existir humano.

O artigo completo será publicado no segundo semestre, no livro Acompanhamento Terapêutico - Casos Clínicos e Teoria, organizado por Andrés Aguirre Antúnez, Editora Casa do Psicólogo.


Foto: teia de aranha sobre tronco, Liliane Oraggio