segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Para o analista, isso significou um benvindo sinal, indicando as tremendas diferenças entre as máscaras distorcidas e maliciosas dos adultos, e os semblantes das crianças, radiantes de fé e de confiança. Perguntou então cautelosamente à paciente se aquelas crianças, que davam gosto de ver, não pertenciam de certa forma àquela parte de seu mundo que havia permanecido saudável e feliz. Uma vez que ela estava aberta para perceber essas crianças normais, não seria possível presumir que, fundamentalmente, ela também poderia viver como uma criança normal e feliz? Já que essa maneira de comportamento talvez correspondesse a seu self próprio e autêntico, o que aconteceria caso, na análise, ela se permitisse ser essa pequena criança, totalmente despreocupada e sem repressões? Se ao agir assim ela se sujeitasse à regra básica da análise, de dizer tudo, será então que não teria início a necessária drenagem da criança doente de seu sonho? Talvez, dessa maneira, a inflamação de seu cérebro – devida muito provavelmente à estafa intelectual – pudesse também desaparecer.

Permitir que ela fosse uma criança pequena foi o "abre-te Sésamo" que descerrou as comportas que durante tanto tempo haviam impedido que suas verdadeiras potencialidades se expressassem. Era como se ela tivesse esperado por essa permissão durante toda a vida. Toda a fachada de seu antigo modo de vida – os padrões excessivamente conscienciosos de dedicação ao trabalho, de esforço ilimitado para atingir determinados objetivos nela inculcados durante tanto tempo – desmoronou com toda a força de sua prodigiosa vitalidade, dando lugar aos impulsos infantis de chupar os dedos, dar pontapés e gritar. Em casa, ela começou a brincar com seus próprios excrementos, usando-os para pintar enormes folhas de papel de rascunho, que se traíam de longe por seu odor. (Fig. 7.) Dentro da banheira, também besuntava todo o corpo com suas fezes. Inesperadamente, trouxe uma mamadeira para a sessão de análise, que chupava deitada no divã, como se fosse criancinha. A seu pedido, o analista teve que alimentá-la com a mamadeira, enquanto ela permanecia encolhida como um bebê no divã.

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